Que é a lagarta do pinheiro
A lagarta do pinheiro ou processionária (assim denominada devido à forma como as lagartas se deslocam da árvore para o solo, parecendo que vão em procissão) é um inseto cujo principal hospedeiro é o pinheiro (manso ou bravo). É uma praga vulgar em Portugal, devido à presença destas espécies nas nossas áreas florestais.
O ciclo da lagarta do pinheiro divide-se em duas fases: fase adulta (ovos e lagartas – fase aérea em que vivem nas copas dos pinheiros) e a fase de pupa (fase subterrânea em que se encontram no solo – pode ter a duração de 1 a 3 anos).
O grau de desenvolvimento das lagartas está diretamente relacionado com as condições climatéricas existentes, podendo verificar-se um aceleramento/retardamento dos estádios. Invernos secos e de céu descoberto aceleram o ciclo e nestes anos, em dezembro/janeiro, já existem lagartas no chão.
Entre janeiro e maio, abandonam o pinheiro para se enterrarem no solo para continuar o seu desenvolvimento e entre agosto e setembro nascem as lagartas que se agrupam em ninhos na copa dos pinheiros.
Estas lagartas devido aos seus recetáculos com pelos urticantes são bastante nefastas pois injetam substâncias tóxicas na pele ou mucosas provocando reações de hipersensibilidade, que podem causar necrose ou até mesmo ser fatais. As crianças e os cães são os principais afetados, pelo que se vir ninhos de lagarta do pinheiro deve tomar as medidas de controlo necessárias.
Sintomas de contágio de lagarta
Os sinais clínicos são variáveis e têm caráter evolutivo:
- Inchaço do focinho;
- Salivação excessiva;
- Dificuldade em engolir;
- Prurido intenso, sobretudo na face;
- Urticária;
- Vómitos;
- Apatia;
- Perda de apetite;
- Dificuldade em mastigar;
- Alterações oculares.
Os sinais clínicos dependem da área afetada pelos pelos da lagarta, da quantidade de toxina a que o cão foi exposto e do tempo decorrido. Os sintomas surgem geralmente minutos ou horas após a exposição e agravam-se com o tempo, podendo levar a sequelas graves e mesmo à morte. Por conseguinte, é essencial atuar o mais rapidamente possível, mesmo que os sintomas iniciais pareçam ligeiros.
No início, podemos notar uma mudança no comportamento do cão, que se manifesta por um aumento da inquietação ou do nervosismo. Pode ter urticária generalizada (mais frequente no rosto) e procurar coçar-se ou esfregar-se (o que deve ser evitado para não libertar mais toxinas no organismo). Pode aparecer vermelhidão na pele ou inchaço em qualquer parte do corpo, sintomas que podem indicar uma reação alérgica no cão e a necessidade de cuidados veterinários profissionais.
Se tiver entrado em contacto com os olhos observaremos sinais de desconforto e dor ocular, tais como inchaço ou fecho da pálpebra, resistência ao abrir o olho afetado, excesso de lágrimas, sensibilidade à luz direta, bem como vermelhidão do olho, da pálpebra ou da conjuntiva, ou mesmo o aparecimento de vesículas ou bolhas em diferentes partes do olho. Qualquer sinal de dor ocular ou de fecho súbito das pálpebras deve levar a uma visita ao veterinário.
Se o cão tiver lambido, ingerido ou tentado ingerir uma lagarta, as áreas mais afetadas serão a boca e o sistema digestivo, com possível envolvimento do sistema respiratório. É provável que haja inchaço do focinho e/ou dos lábios, língua inchada, salivação excessiva, náuseas ou mesmo vómitos ou diarreia, vermelhidão das gengivas e alterações da cor da língua (normalmente na ponta e/ou nos lados). Estas toxinas podem causar danos permanentes nestas áreas, levando mesmo à perda de tecido. Se a lagarta for ingerida pelo cão, estas lesões podem propagar-se ao resto do tubo digestivo.
Além disso, existe o risco de a inflamação se propagar à garganta e às vias respiratórias, provocando uma obstrução que impede a respiração. Por conseguinte, quaisquer sinais de náuseas, salivação excessiva, vómitos ou inchaço da boca ou da língua indicam a necessidade de visitar o veterinário com urgência.
Finalmente, em situações extremamente graves, o cão pode entrar em choque anafilático, manifestando-se por fraqueza ou prostração extremas, respiração alterada, alterações da cor da gengiva e falta de reação a estímulos. Esta reação descontrolada de todo o organismo, que afeta os sinais vitais, pode levar à morte se não forem tomadas medidas imediatas
Recomendações a seguir enquanto vamos para o veterinário
É extremamente importante abandonar a zona do incidente o mais rapidamente possível, uma vez que estas lagartas podem deixar vestígios de pelos ou de substâncias irritantes quando se deslocam. É igualmente aconselhável abrigar-se do vento, que pode arrastar consigo estes elementos. Se houver vários cães, é fundamental evitar a sua interação. Além disso, devemos evitar o contacto direto das nossas mãos ou da pele com o cão.
Devem ser efetuadas várias lavagens e irrigações com água (se não houver soro fisiológico disponível) das áreas afetadas, incluindo os olhos, as superfícies do corpo e até a cavidade oral e a língua. Devem ser efetuadas com pressão para gerar um efeito de "limpeza" e remover o máximo possível de pelos e/ou toxinas. Nunca devemos esfregar as zonas lavadas, pois podemos fragmentar os pelos irritantes e as bolhas venenosas, libertando uma maior quantidade de toxinas. Esta situação provocaria um agravamento dos sintomas clínicos.
Da mesma forma, deve ter-se o cuidado de assegurar que o cão não se coça ou esfrega contra objetos ou superfícies, nem tenta coçar os olhos ou a cara com as patas. Recomenda-se o contacto telefónico com a clínica veterinária para informar sobre a situação, os sintomas e a hora prevista de chegada, e a deslocação urgente ao centro veterinário para a tomada de medidas médicas adicionais.
Recomendações para evitar que os nossos cães entrem em contacto com a lagarta processionária
- Evite caminhar em zonas arborizadas com pinheiros, abetos ou cedros, especialmente no final do inverno e no início da primavera (geralmente de meados a finais de janeiro a finais de março ou início de abril).
- Manter os nossos amigos peludos sempre com trela durante os passeios. Assim, é mais fácil retirá-los rapidamente dos locais onde as lagartas sejam visíveis, pois muitas vezes despertam a curiosidade dos cães e o seu instinto inicial é o de se aproximarem.
- É importante respeitar os sinais de aviso, caso existam, e evitar caminhar em zonas onde estejam colocados tratamentos inseticidas ou armadilhas para lagartas.
- Se forem identificados ninhos de lagartas, sugere-se que se contactem as autoridades competentes (geralmente as autarquias locais) se estiverem em áreas públicas, para que possam ser tomadas as medidas adequadas.
- Se as árvores estiverem na nossa propriedade ou perto do local onde o cão vive, é necessário consultar profissionais sobre tratamentos preventivos. Se forem detectados ninhos, a sua remoção é essencial. Outras ações podem incluir a colocação de armadilhas para apanhar as lagartas quando estas descem do ninho.