Definição
O Mastocitoma é uma neoplasia com origem nos mastócitos, células imunitárias conhecidas pela sua participação nas reações alérgicas.
O Mastocitoma surge normalmente na pele (sendo uma das neoplasias de pele mais comuns no cão) ou internamente, por exemplo, no fígado ou baço. Determinadas raças de cães estão predispostas tais como os Boxers e os Terriers.
Sintomas
Muitos Mastocitomas são assintomáticos e o que leva um dono a procurar o veterinário é a deteção de um nódulo na pele. No entanto, a libertação de histamina pelas células tumorais pode provocar úlceras gástricas e o surgimento de vómitos e sangue digerido nas fezes.
O aspeto do nódulo varia muito: alguns são ulcerados, podem ter um crescimento rápido, ou lento, podem também estar presentes por meses ou anos, podem estar inflamados (vermelhos) e inclusive, podem variar de tamanho devido à resposta inflamatória.
Diagnóstico
O diagnóstico é normalmente feito de forma fácil através de citologia. Trata-se de uma análise simples e cujo resultado é obtido em 24 h.
No entanto, a biópsia é indispensável para classificar o grau histológico. Tradicionalmente os Mastocitomas são classificados em grau I, II e III consoante o grau histológico e de invasão de tecidos adjacentes. Os masticitomas grau I têm um comportamento benigno, enquanto os Mastocitomas de grau III têm um comportamento maligno. Uma grande parte dos Mastocitomas de graiu II possuem um comportamento benigno, mas uma percentagem significativa pode metastizar. Nestes casos é importante a realização de aquilo que vulgarmente denominamos de painel de Mastocitoma - Consiste num conjunto de análises que nos auxiliam a prever o seu comportamento. Este painel consiste na avaliação do Índice Mitótico, do padrão de distribuição celular do c-KIT e da quantificação dos AgNOR. Estes parâmetros indicam ou uma elevada multiplicação celular, ou uma atipia muito marcada e que normalmente são sinal de um comportamento muito agressivo.
Mastocitomas em regiões de transição mucocutânea, tais como, boca, vulva e pénis possuem também um comportamento mais agressivo e merecem especial atenção. Por outro lado, os mastocitomas em cães de raça Boxer possuem um comportamento menos agressivo, embora esta afirmação não possa ser generalizada.
Um caso particular da utilidade do painel de Mastocitoma é o de tumores nas extremidades distais dos membros em que se torna impossível remover a neoplasia com a margem desejada. Nós sabemos que só perto de 30 % dos Mastocitomas no cão com margens sujas (tumores que aparentemente não foram removidos na totalidade) recidivam, isto é, voltam a surgir. Isto porque os mastócitos tumorais libertam substâncias que atraem mastócitos normais, e os mastócitos que vemos na periferia da lesão são células normais e não tumorais. Assim, o painel poderá permitir avaliar a agressividade da neoplasia e ajudar a decidir se se justificam medidas terapêuticas mais agressivas.
Tratamento
O tratamento dos Mastocitomas é cirúrgico. Perante um nódulo a preocupação é removê-lo com 2-3 cm de margem.
Em mastocitomas de grau I a cirurgia é suficiente e curativa. Em mastocitomas de grau III está indicado o tratamento com quimioterapia adjuvante, ou inibidores c-Kit. Os protocolos de quimioterapia utilizados utilizam como fármacos a vimblastina e/ou a lomustina juntamente com corticosteroides. É também importante a medicação com anti-histamínicos de forma a prevenir o aparecimento de úlceras gástricas provocadas pela libertação de histamina pelo tumor.
A utilização de quimioterapia em mastocitomas de grau II depende da avaliação de vários fatores de prognóstico conforme discutido anteriormente.
Os inibidores c-Kit (Masivet) são por vezes utilizados, especialmente em tumores não operáveis.
Prognóstico
Os mastocitomas têm um prognóstico muito variável. O grau permite-nos antecipar o seu comportamento, com exceção dos mastocitomas de grau II. Mesmo em mastocitomas de grau III o comportamento é muito variável, havendo casos de progressão galopante e outros com doença estável. Por fim, é muito comum o aparecimento de novos mastocitomas na pele e que se pensam ser lesões novas e não metástases do primeiro tumor. Nestes casos o dilema coloca-se se valerá a pena submeter o animal a cirurgias consecutivas e se isso lhe trará mais e melhor tempo de vida.
Hugo Gregório, MV